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quarta-feira, 2 de março de 2016

Gênese.

Quem somos? De onde viemos? Pra onde vamos? O cabeludo que pintava rabiscos nas pedras já devia se perguntar isso...

Somos os viajantes sírios na esperança de encontrar abrigo (trabalhos pesados num futuro próximo) na Alemanha? 
Somos os norte-coreanos obrigatoriamente vendados às maravilhas do mundo exterior?
Somos os americanos vivendo o sonho do trabalhar, trabalhar e, aos domingos, rezar?
Somos os jovens brasileiros ainda atrapalhados com essa tal de democracia?

Somos todos a última geração de telefones da Apple?
Somos a contagem regressiva pra próxima copa do mundo?
Somos o carro do ano? 
Somos de verdade? Ou somos de mentira?

O que estamos fazendo nessa meia dúzia de décadas que temos por aqui? Amando? Suportando? Trabalhando? 

Quando foi a última vez que pisamos na areia da praia? 
Quando foi a última vez que ouvimos os pássaros cantando em meio às árvores da mata nativa? 

Quanto custa o ingresso pra frequentar a natureza (enquanto ela ainda existe)?

Por que ignoramos as vidas iguais às nossas que existiram há milhares de anos? Por que seguimos doutrinas radicalmente a ponto de nos colocar em guerra uns contra os outros? 

Egípcios não se maquiavam e morriam crentes do renascimento em outro plano?

Romanos não beijavam bocas do mesmo sexo banhados em vinho?

Humanos exatamente iguais a nós (biologicamente e emocionalmente) já viveram aqui sob influências completamente diferentes e se deram muito bem, por muitos anos. Faliram, sim, mas reinaram orgulhosos por muito mais tempo que a nossa geração touchscreen. Faliremos também, ao nosso tempo. 

Mas, por que hoje fingimos ser a única geração humana a caminhar por aqui? Por que cada um tem a sua regra e quem não a segue deve ser renegado?

Cor da pele, nacionalidade, viés político ou preferência sexual importam para pelo menos um indivíduo a não ser aquele que a carrega?  -Não. 

Não passamos de carne, osso e algumas boas ideias (cerveja gelada, por exemplo). 

Viemos das entranhas de uma fêmea da nossa espécie que nos guardou por 9 meses dentro de si. Vamos voltar pra mesma terra que um dia pairou serena sem a nossa presença aqui, querendo ou não. Só isso. 

Estamos nessa senda com um único propósito: achar este propósito e viver por ele. 

Sem propósito, podemos estar apenas desperdiçando a oportunidade.  

Ainda que sentados em trono dourado, podemos estar cabisbaixos por não termos o vento certo a soprar nossas velas.

Ainda que sentados à calçada com pés sujos, podemos estar vibrantes pela oportunidade que chega ao novo amanhecer.

Tudo depende do propósito.

Podemos estar agora à beira do oceano ouvindo as ondas quebrando.
Podemos estar agora abraçando alguém querido com força.
Podemos estar agora aprendendo algo novo com alguém de outro lugar.
Podemos estar agora ninando a criança fruto de nosso amor.

Cada um ao seu modo, sem apontar dedos ou ditar padrões para o nosso vizinho, podemos dar propósito ao nossos dias. 
Amanhã pode ser apenas o próximo ou o último deles aqui no pálido ponto azul do infinito. O último sempre chega.


Vamos frequentar mais o azul do mar.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Guerra.

Tenho andado distraído. Todos temos.
Enquanto tomamos conta das nossas vidas supertumultuadas e cheias de compromissos inadiáveis, reuniões importantíssimas e cargas horárias petrificadas, outras se perdem. Por negligência da nossa parte. Por extremo envolvimento e consequente cegueira de nossa parte.

Quando percebemos, castelos que julgávamos fortalezas robustas e fortes, desabam como se fossem construídos com folhas de caderno.
Nos deparamos com quem estava sempre ao nosso lado e nossos olhos já não vão mais ao encontro daqueles à frente.

O que era ontem, hoje já não é. Amanhã será?
Se hoje fosse ontem, amanhã seria hoje, diria o viajante.

No final das contas, a vida é feita de escolhas. E cada um arca com as belezas e as cicatrizes que elas geram.

Pessoas de poucos anos de existência conseguem chegar a essa conclusão.
Pessoas à beira da passagem, com incontáveis rugas na pele, nunca o conseguiram, por maior que tenha sido o seu caminho.

Quando faltam desculpas e sobram explicações:

Fiz aquilo que meu coração mandou.
Fiz aquilo que minha razão mandou.
O que o meu bom senso mandou.
O que meu instinto mandou.

Quem manda? Quem obedece? Qual é o lado certo da moeda?

O grande problema é que insistimos em ter uma moeda. E insistimos em dar a ela a dualidade que lhe é característica.

Em certos casos, certo e errado, no fundo, são irmãos gêmeos aos olhos da mãe.
Quem é o mais bonito? 
Quem é o mais talentoso?
Quem vai me dar o orgulho do diploma de medicina?

Um pouco além do fundo, nestes casos, a conclusão é de que não há certo ou errado, melhor ou pior, bom ou ruim.
Simplesmente, não há.

Uma escolha gera uma consequência. E só.
Ser ela boa ou ruim, caberá aos olhos de quem vê.
Tudo que ouvimos é uma opinião, não um fato. Tudo que vemos é uma perspectiva, não a verdade. É o que andam dizendo por aí.

De qualquer forma, os olhares que não mais se cruzam são as piores cicatrizes pra quem volta da batalha. 
Por um simples motivo: algumas guerras não têm vencedor.

quarta-feira, 11 de março de 2015

"Dream of Californication"

Uma estrela na boulevard? Tua foto no outdoor? Teu nome em todas as bocas? O que te faz vir pra onde as estrelas cadentes aterrizam? Aquelas de verdade estão anos-luz distantes dos nossos olhos. Muitas delas cujo brilho admiramos à noite já estão há tempo mortas, inclusive.

Mas cada um que arque com seu sonho. 

Dentro do espelho somos todos farinha do mesmo saco. Cor da pele? Opção sexual? Profissão? Tamanho da roupa? 
Se tu ainda questiona qualquer dessas variáveis sobre alguém que está diante de ti (ou na tua família, ou no teu trabalho, na parada do ônibus, na novela), sinto muito em te dar a notícia fatal: tu não tens mais lugar no planeta. 

A vida anda. O tempo corre tão rápido a ponto de nos forçar a ter epitáfios cada vez mais arrependidos. Areia escorrendo pelos dedos.

Temos que deixar algumas carcaças para trás. 

O julgamento de um ser humano, por outro, caiu há muito tempo, naquilo que cotidianamente lhe cabia julgar em pensamento.
Cada um com o seu sonho. Cada um com a sua glória. Cada um com os seus calos.
Acorde de manhã e vá atrás daquilo que te faz vibrar. Um passo de cada vez. Não dê ouvidos a quem não acredita. Não dê valor para pensamentos e opiniões depreciativas. 
Cada um com o seu "cada um".

Cabe somente a ti fazer do teu presente uma experiência única. Dê o seu máximo. Orgulho do passado e frutos no futuro virão naturalmente. Vai ser assim, com certeza! Coisas boas acontecem pra quem é bom, para si e para os outros.

Mas não pense que as perguntas da primeira linha idealmente terão respostas positivas. 

A cidade dos anjos não é habitada somente por eles.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Pais e filhos.

"Você diz que seus pais não o entendem...". Que início maravilhoso de frase. Aposto que a essa altura, Renato já tinha se dado conta do verdadeiro papel dos pais na vida de um filho. E igualmente do valor deste na vida daqueles. 

Certamente já tinha compreendido que pais e filhos são pessoas distintas umas das outras, embora sejam sequências biológicas e/ou afetivas umas das outras. Nós filhos somos uma espécie de extensão do ser deles, os pais. 

Mas o que muitos, pais e filhos, não entendem, é que, apesar de tudo, não somos a sombra deles, necessariamente. E eles não são nossos modelos, necessariamente. 

Agradeça se tiver pais cujos exemplos tu possa seguir com devoção. Mas também não fique se cobrando por não conseguir fazer de tudo para ser ou agir exatamente ao seu modelo. Não viva à sombra deles. Somos pessoas diferentes, ainda bem. Tampouco os pais podem alimentar esse desejo. Isso pode sufocar.

Pais e filhos, sob a regra natural das coisas, devem nutrir entre si amor incondicional. Nada mais. 
Nada além do amor justifica essa relação tão estreita que a própria natureza criou, e vai continuar assim fazendo até o fim da aventura humana na terra. 

Portanto, tudo o que foge ao amor nas relações entre genitores e sua prole, não deve ser imposto, obrigado, nem cobrado por nenhuma das partes. Isso só as distancia. 
Afinal, tudo o que temos em mãos é um relógio, e o tempo que temos de convivência uns com os outros está contando. Está contado. Sempre esteve, desde as duras e gloriosas horas do parto. 

Vamos aproveitá-lo com o amor. 

Sem pressões, sem sombras, sem estátuas ocas. Vamos ter a compreensão como religião. Pais e filhos devem ser melhores amigos. Agradeça novamente se assim acontece contigo. 
Mas não culpe o universo ou seja lá quem queiras se as coisas não são tão ao estilo conto de fadas na tua vida. 

Somos pessoas diferentes, ainda lembra dessa parte do texto? Embora exista a máxima de que a fruta não cai longe do pé. 

"... mas você não entende seus pais". Seguiu assim a sua estrofe, aquele poeta. 

Lembremos sempre, pais e filhos, é daquele refrão. Pois o amanhã, na verdade, não há.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Sobre sorrisos, o futuro e a esperança.

Ancoradouro.

Pra quem tu vais olhar, senão os meus olhos?
Pra quem tu vais falar, senão à minha alma?
Pra quem tu vais te entregar, senão ao meu abraço?

Sou porto, podes ancorar teu coração.

Preenchendo todos os espaços.
Ocupando o que sempre esperou (guardado) por ti.
Transparecendo todos os teus receios.
Reme ao meu encontro, que te acompanho em cada onda, 
para a sintonia sincronizar-te em mim.



Amanhã em Sol Maior.

Escuta com calma.
Te toco uma música.
Te toco o coração.
A vida dedilha as cordas
enquanto a gente dança sem
ansiar pelo amanhã.

Deslizo as mãos por teus cabelos.
Dirijo meus lábios ao encontro dos teus.
Dou sorrisos por saber que estás aqui.
Sem lembrar que amanhã é outro dia, 
enquanto hoje te observo todo em calmaria.







**Ambos compostos em parceria com Marinna Borba.